Lendo a recente entrevista do cantor Ricky Martin a uma revista semanal brasileira podemos fazer descobertas interessantes. A primeira é que o artista porto-riquenho também está engajado na gigantesca onda atual de relativismo, distorção e quebra de princípios e valores que varre o mundo. Suas análises, observações, considerações, deduções, conceituações e conclusões a respeito de família beiram ao fantástico. É muito teorização sobre a família da parte de quem não manja nada a respeito do assunto, e que, de repente, ao se declarar gay – e para justificar tal escolha – passa a fazer declarações de cunho filosófico, social, espiritual, genético, botânico, político, econômico, educacional, doméstico, gastronômico... sobre o tema. E porque tudo isso? Pelo simples fato de que Ricky acaba de formar uma família. Família, bem entendido, à sua moda. Modelo saído integralmente de sua cabeça.
A partir daí, para vender ao mundo seu bom mocismo, sua versão de artista coexistente com os costumes estabelecidos, passa a produzir e exportar uma nova codificação para a organização familiar. Sem conhecer do assunto, como macaco em loja de cristais, quebra os mais elementares fundamentos da ordem natural das coisas e atropela os princípios morais e espirituais que emolduram a estrutura familiar milenarmente conhecida. Tratando-se de uma personalidade de tal porte, é natural que suas opiniões repercutam e encontrem seguidores. E é nesse ponto onde mora o perigo. Nas suas considerações à revista ele emite conceitos altamente prejudiciais à organização da família, embora também tenha uma. Não é irônico? Nem tanto. Conhecendo-se o seu projeto familiar dá para se ter uma idéia do que vai pela sua cabeça e do quanto isso tem de danoso ao conceito tradicional de família.
Ricky Martin tem dois filhos. Através de trabalho executado por clínica especializada, seu esperma foi introduzido em mulher especialmente contratada para tal fim: parir os filhos dele sem manter relações sexuais e nenhum tipo de relacionamento antes ou depois do nascimento. Tudo transcorreu de acordo com o combinado, de modo a termos hoje uma família cujo pai não conhece a companheira e cujos filhos (do parto nasceram gêmeos homens) desconhecem totalmente o paradeiro da mãe, seu nome, sua aparência, suas particularidades. E o que é pior: seu amor. É natural se concluir que as crianças não foram amamentadas por tal criatura e que estão sendo criadas dentro de um processo de extirpação total da curiosidade infantil a respeito do útero que as concebeu e que as colocou no mundo. Certamente às crianças jamais será permitido perguntar sobre tais mistérios. E futuramente?
A esse balaio de gato, envolvido em clima de novela mexicana e, pelo menos por enquanto, recheado de glamour, Ricky Martin dá o nome de “família moderna”. Na entrevista, diz ele lá pras tantas: “O que me deixa feliz é que meus filhos vão crescer dentro de um contexto de uma família moderna”. Meu Deus, quanta distorção! Que modernismo é esse! Onde está, na sua engendração, essa tal modernidade? Melhor seria que ele se inteirasse melhor sobre o que é moderno. Por outro lado, fique bem claro: ele tem todo o direito de fazer sua família do jeito que lhe der na telha. Porém, conceituar família moderna do jeito da que ele inventou para si, com o objetivo de aconchegar suas conveniências, vai uma distância muito grande. Para os que admiram sua obra como artista o melhor é curtir de Ricky Martin seu lado musical. Não levemos em conta esse seu blá blá blá sobre família.